Anos atrás, durante uma encruzilhada em um ponto crítico em minha vida, eu engavetei essa viagem. Há surpresas – e grandes indicadores de esperança e ameaças – que camuflam algumas escolhas. E apesar do meu desejo, eu certamente não estava pronto para aquilo. Agora, talvez seja o momento de acabar com essa espera e resolver algumas pendências.

O que eu sei sobre a Índia? Taj Mahal, Mahatma Gandhi, curry.

Nepal? Bem, o Everest fica por lá.
Sem dúvida alguma, meu maior percalço é o planejamento antes de uma viagem. Tomar notas de um guia, buscar informações em blogs e tentar estabelecer um itinerário são coisas que me dão calafrios. Muito por conta da minha total aversão a roteiros engessados, se existe alguma parte que eu preferiria pular seria justamente essa. Não estou à procura dos melhores restaurantes da cidade que irão agradar ao paladar de turistas ou atrações tidas como imperdíveis por quem não vive lá. Errado, despreparado ou relapso, gosto mesmo é do improviso e do calor do momento. Sempre me saí melhor conversando nas ruas, seguindo meu instinto e fazendo a minha interpretação momentânea. Me dê um mapa e vai ficar tudo bem.
Depois de horas a frente de um computador meu cérebro está cozido. Há mais de uma semana tento me adiantar e comprar alguns tickets de trens que vou precisar pra me mover pela Índia. Em um país com mais de um bilhão de pessoas, imagino que essa é uma boa hora para me esforçar e tentar garantir essas passagens. Mas não tem sido nada fácil. Dezenas de e-mails em um inglês bastante mal escrito – da minha parte, é claro -, números de telefones imaginários, cópias de passaportes e a esperança que, talvez no próximo contato, algo dê certo.
Será isso uma prévia da Índia? Um teste de paciência para já ir me acostumando?

Eu espero que não. Tento varrer da minha cabeça o carretel de informações preconceituosas e mal faladas sobre as quais eu li e manter meu foco na esperança de uma empreitada reveladora no melhor sentido.
Qual o grau em que nós do ocidente – me incluindo – somos ignorantes sobre outros lugares da Terra? É realmente uma visão estreita e que nos coloca como prioridade? O quão suficiente liberto do etnocentrismo eu estou para me deixar ter uma experiência positiva no sudeste asiático?
Todos exaltam insistentemente o “choque cultural” que é chegar a lugares como Varanasi ou percorrer Katmandú. Cores brilhantes, variações descontroladas de texturas, rituais com cadáveres, serpentes, misturas de especiarias, sabores e aromas assertivos. É isso o que podemos esperar da Índia e do Nepal? Ou seria apenas um olhar ocidental da situação?
Nem de longe sou um viajante experiente. Nunca sequer visitei um país onde a maioria não fosse cristã. Mas espero compensar isso com entusiasmo e curiosidade, os melhores argumentos para viagens que posso pensar.
Ainda que eu escreva para as pessoas, geralmente não me importo muito com o que elas  vão tirar das minhas experiências. Claro, espero que as pessoas gostem do que vêem e lêem. Espero que elas sejam entretidas e interessadas. Que elas achem as imagens impressionantes e entendam as minhas meras mensagens. Mas isso é muito, muito longe do que eu estou pensando quando me certifico se meu cinto está afivelado e se a bandeja a minha frente se mantém presa.
Mesmo tendo que dedicar atenção a locais para hospedagem, horários de trens e vacinas, em primeiro plano me preocupo como eu vou reagir a algumas situações e a forma como eu vou poder entender e ter cabeça suficiente para interpretar alguns lugares.
Não espero nada da Índia ou do Nepal e ao mesmo tempo espero tudo. Será mesmo verdade a máxima de que volta-se “diferente” de lá? Quem são os Sikhs? Por que as vacas são sagradas? Em pouco mais de uma semana o avião vai aterrissar em Nova Delhi e então o show vai começar. Até lá, tudo é expectativa e mera presunção.
Por que eu escolhi esses países? Honestamente, não encontro uma resposta confortável.
Das coisas que ainda tenho certeza, uma delas serve de alento: quanto mais vemos do mundo, como as outras pessoas – supostamente tão diferentes de nós – vivem, e ainda que brevemente, possamos conversar com elas, dar um passeio e dividir um prato de comida, então melhor esclarecidos seremos. Estar exposto a outra realidade é contaminante. Nos permite aprender importantes lições e nos enriquece. Faz – ou deveria nos fazer – mais humildes.
Nos vemos no que hoje pra mim, ainda, é só a terra das especiarias e do Himalaia.

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One Reply to “Negócios Pendentes”

  1. Isabel Martins disse:

    Super ansiosa para saber suas impressões sobre a Índia e o Nepal, mas é a Índia quem povoa meu imaginário desde há muito tempo !! Depois de sua viagem…..quem não será mais a mesma serei eu…rsrs enquanto não for para lá!!

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