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Animais invasores

A melhor forma para essa prevenção ainda é a educação e o contato com a informação, pois o papel da população como fiscal e atuante na causa é fundamental para que novas espécies não sejam introduzidas e se transformem, com o toque da varinha-mágica da irresponsabilidade humana, em mais novas pragas.

Invasores. Assim são chamados aqueles animais que foram introduzidos e se estabeleceram em locais que não são a sua casa, quase sempre graças ao grande invasor de todos: O ser humano!

Alguns dos exemplos de destaque mundial são os pombos, ratos, cães, gatos, pombos, baratas e javalis.

Para uma espécie ter um alto potencial invasor, ela precisa ter um alto poder de adaptação, tem que conseguir se virar no ambiente em que está invadindo. Um bom exemplo é o rato, pois reúne características de outros invasores: é um animal de rápida reprodução (como o coelho), prole numerosa (como o lagostim-da-Louisiana), que se alimenta de tudo (como o pombo) e que é facilmente transportado pelo mundo (como a barata).

As espécies invasoras geralmente causam grandes desequilíbrios ecológicos, pois afetam significativamente as cadeias tróficas e relações entre os animais. As rãs-touro são nativas dos pântanos dos Estados Unidos (que aliás, foram invadidos por pítons, enormes serpentes asiáticas). As rãs que fugiram ou foram soltas de ranários aqui no Brasil, por exemplo, significam girinos e adultos enormes que comem os de outras espécies, além de sua vocalização alta atrapalhar a comunicação de outros anfíbios, inclusive de espécies potencialmente ameaçadas, cujos machos vocalizam e precisam se comunicar eficientemente para se encontrar com as fêmeas e assim haver reprodução.

Mas, nem todo invasor é totalmente ruim; A lagartixa-comum (Hemidactylus mabouia) é uma espécie africana que está espalhada pelo mundo, mas presta o serviço comunitário de controlar visitantes indesejados, como a também invasora barata, além de aranhas e escorpiões, por exemplo.

O urubu, por outro lado, não é uma espécie invasora, e sim nativa da Mata Atlântica, mas que é atraída pelo lixo humano, causando realmente uma “invasão” desses animais nas cidades, e associando a espécie erroneamente com este termo.

Para combater a invasão, é preciso conhecer melhor a biologia dos animais, para que seja possível prevenir as suas formas de entrada no ambiente antes mesmo que ela cause danos significativos.

A melhor forma para essa prevenção ainda é a educação e o contato com a informação, pois o papel da população como fiscal e atuante na causa é fundamental para que novas espécies não sejam introduzidas e se transformem, com o toque da varinha-mágica da irresponsabilidade humana, em mais novas pragas.
Espero que curtam, e um ótimo feriado!

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Camelos, muralhas e uma fuga para o deserto

Jaisalmer, Rajastão. Fevereiro de 2016

Pra variar, o trem está atrasado. Já passou da meia noite e mesmo assim a estação ferroviária de Jaipur está lotada. Por doze horas, nossa casa será uma cama em um vagão cheio da terceira classe que vem de Nova Delhi.

Cansado e querendo “ferrar no sono”, eu expulso em bom e velho português a coreana/chinesa/japonesa que resolveu pegar o meu lugar. Não há espaço para minha mochila no chão e acabo, desconfortavelmente, dormindo abraçado a ela.

São quase vinte estações que me separam de Jaisalmer, meu destino por alguns dias. A cada parada, parece que uma tropa de choque ou escola de samba resolve entrar no vagão. Se existe alguma coisa que você vai notar logo de cara quando estiver viajando pela Índia é que a falta de noção e do chamado “semancol” são levados a outro nível. Uma linha tênue e facilmente ultrapassada separa você do seu colega indiano mais próximo. Eu me pergunto o que passa na cabeça deles para acharem que está tudo bem em conversar em voz alta ou colocar uma música bacana no seu celular às quatro horas da manhã. Nesses casos, aquele lance de relativismo cultural é chutado pro alto e belas palavras em português – aquelas que minha mãe não gostaria de saber que andei falando por aí – ganham a vez.
Quando desperto já é dia. Estamos perto de Pokaran, cidadela à 130 quilômetros de Jaisalmer. Nos anos noventa essa pequena vila virou notícia pelo globo. Ali, nas areias do deserto, a Índia detonou 5 artefatos nucleares e entrou para o célebre pequeno grupo de nações possuidoras de bombas atômicas. Num país onde muita, muita gente passa fome e não tem acesso a rede elétrica, colocar medo nos paquistaneses parece ser prioridade.

Depois de muita areia, vegetação árida e poucas pessoas, a visão da fortaleza levantada em meio ao deserto indica que chegamos. Uma silhueta dourada recortada no topo de uma colina rochosa em meio ao nada. Se o Tintim resolvesse dar as caras, fugindo montado em um elefante enfurecido, não seria de todo estranho.

Comparada às de Delhi, Agra ou Jaipur, a estação é bastante pequena e amigável. Como aprendi na marra, saio da estação armado de cara feia e falso mau humor para enfrentar a dura batalha que é fazer um tuc-tuc nos levar a guest house reservada sem maiores problemas. Quando me refiro a problemas, quero dizer que existe uma boa chance do seu motorista topar te levar sem fazer a mínima ideia de onde você quer chegar. Isso poderá lhe custar alguma passada em agências turísticas oferecendo passeios, um tour por outros “ótimos” hotéis (sob os quais o piloto ganhará uma comissão caso você decida ficar) ou uma série de paradas em meio a estrada para consultar qualquer um que estiver passando numa abordagem próxima no estilo “mostra pra ele o nome do seu hotel; você sabe aonde fica?”.
Jaisalmer, a Cidade Dourada e porta de entrada para o Deserto de Thar, se camufla à paisagem ao redor já que é praticamente construída à base de arenito. Seu apelido é devido à cor de mel das pedras. Ela representa, para muitos, a essência do Rajastão, ainda que tomada de assalto pelas mazelas do turismo e cobrindo toda e qualquer fachada centenária com dizeres “recomendado pelo Lonely Planet”. Sim, todos nós temos o mesmo guia e isso meio que arruína toda a explorar o fim da terra, bombardeando cada canto com sinalizações em inglês e nos lembrando que milhões estiveram aqui antes. Nós fazemos parte disso e merecemos parte da culpa.

Muito tempo atrás esse lugar se estabeleceu, cresceu e prosperou junto a seus mercadores como um entreposto na rota comercial que conectava a Índia ao Afeganistão e à Ásia Central. Os primeiros governantes enriqueceram ao saquear pedras preciosas, seda e ópio das caravanas. Os havelis, mansões altamente adornadas, são testemunhos das riquezas acumuladas pelas volumosas taxas cobradas sobre aqueles que utilizavam a rota pelo deserto. Quando o transporte marítimo passou a ganhar força e a divisão de terra entre a Índia e o Paquistão resultou no fechamento das estradas, a cidade empobreceu e decretou sua decadência comercial.

Hoje Jaisalmer vive basicamente do turismo, oferecendo como carro chefe o safári de camelo pelo deserto. Uma base militar estratégica nos embates com os vizinhos muçulmanos completa o status do lugar. No conflito de 99, muitas tropas se mobilizaram e se deslocaram para cá.

 

Em tempos medievais, toda a população de Jaisalmer vivia dentro do forte.

Mesmo agora, dizem que mais de 35 mil pessoas moram ali, o que o torna, aparentemente, o único forte residencial da Índia. Um conglomerado de palácios, mansões, templos, mercados, bazares, quiosques, pousadas e casas comuns conectadas por um labirinto interminável de minúsculas ruelas e becos.

Eu decido ficar fora do forte. Fui aconselhado a fazer isso já que na cidade amuralhada são frequentes os problemas elétricos e sem mais nem menos cortam a luz enquanto você está todo ensaboado debaixo do chuveiro. Se lembrasse o nome do blog onde li isso, eu ficaria satisfeito em contar que do lado de fora da muralha isso também acontece. E várias vezes. O crescimento desenfreado e desordenado de uma cidade em pleno deserto cobra os seus custos.

Ainda que o forte seja o ponto principal e uma espécie de organismo vivo onde muito de Jaisalmer acontece, a cidade que extrapolou as muralhas e margeia a colina é relativamente tranquila e oferece um respiro à quem, por dias, está precisando. Diferente de tantos outros lugares, ali acaba sendo menos hostil aos turistas. Ninguém parece estar disposto a vender a própria mãe (ou todos já venderam, vai saber) por algumas rúpias. Se vocês souber esperar, em algum momento vai encontrar um pouco de silêncio e paz.

Não muito longe do forte está o Gadisar Lake, lago artificial e o reservatório de água da cidade. Em torno do lago uma série de templos hindus se mescla à vendedores ambulantes e seus mostruários espalhados pela calçada. A história narra que os arcos de acesso ao lago haviam sido construídos por uma famosa prostituta local. Sem autorização do marajá para construir, numa desatenção do mandatário ela colocou a estrutura acima e em seu topo um pequeno templo dedicado a Krishna para garantir que ninguém pudesse mandar destruí-lo. Apesar da bela história, o lago com seus bagres gigantes não pode ser descrito como um local livre de descartes como lixo e tantas outras coisas.

A cidade possui um grande rebanho morando nas estreitas ruas, estercando por todos os lugares. É surreal a forma como as vacas parecem cães domesticados. Coçam a orelha com a pata, param na sua frente esperando um bom pedaço da sua refeição, correm de um lado para o outro, tomam uns tapas no lombo e são acariciadas na cabeça. Assim como em toda a Índia, elas estão sempre na preferencial em qualquer avenida ou calçada, perambulando por onde bem entenderem e atrás da base nutricional de suas refeições: lixo. Houve até um caso onde, em frente a um Bhang Shop que distribui iogurtes com “ervas mágicas” legalmente (uma placa enorme faz questão de esclarecer isso), uma vaca corria eufórica de um lado a outro, balançando a cabeça e perseguindo tuc-tucs. Eu ouvi dizer que o Anthony Bourdain andou ficando alto por lá. Pelo bem da população e o fim das aspirações à “vaca louca” daquele animal, seria melhor eles verificarem onde estão jogando fora os copos usados

Jaisalmer fica no extremo oeste do Rajastão, o chamado fim da linha. Dali para a frente não existe transporte público, apenas a imensidão nua e crua do Deserto de Thar que você pode desbravar montado num camelo. Vendidos em todo buraco na parede que possa ser chamado de agência, esses tour vão desde viagens ultra-turísticas no fim da tarde para o pôr do sol à trips mais hardcore de duas semanas ou mais.

Um jipe segue em frente por uma estrada aberta pelo exército em meio à desolação do deserto. Além de outros 4×4 recheados de turistas, fazendeiros e cabras compõe o cenário. A Cidade Dourada agora já ficava distante. Passaremos a noite entre as dunas, então trato de levar duas cervejas que, mesmo quentes, salvarão a noite. Mal sabia que no pitstop para pegar os camelos eles ofereceriam Kingfisher, pelo dobro do preço, mas gelada.

A primeira parada é uma cidade abandonada. Como acontece muitas vezes na Índia, uma vez que eles colocam o seu dinheiro no bolso os sorrisos e a atenção diminuem. Existe uma longa história envolvendo o vilarejo de Kuldhara, seu abandono e uma maldição local. Mas graças a boa vontade do guia, eu só fiquei sabendo muito tempo depois.

Kuldhara está desolada e um silêncio estranho prevalece ao seu redor. Esta aldeia foi abandonada por seu povo há 200 anos. Em uma era de poderosos reis e ministros, um deles em especial tinha métodos questionáveis de cobrança de impostos e abusava da sua depravação. Ele pôs os olhos justamente na filha do chefe da aldeia e, numa afronta impensável para a época, o pai da moça se negou a entregá-la. Temendo a ira do marajá os moradores de toda a aldeia fugiram em uma noite escura, deixando para trás suas casas e tudo o que havia dentro delas. Ninguém viu os mil membros da aldeia escaparem e nunca se soube aonde eles se reassentaram. Tudo o que se sabe é que eles amaldiçoaram a cidade quando saíram. Ninguém jamais seria capaz de se estabelecer em Kuldhara novamente, e até hoje ela é assim: estéril e desabitada.

Empoeirado até a alma e sob o sol do deserto, eu havia chego àquela região remota sentado no lombo de um camelo. Desconfortável e desconfiando do sorriso amarelado do guia – que insistia em dizer que estava tudo bem enquanto meu camelo dava claros sinais de descontentamento -, não é tão glamoroso quanto aparenta em “Lawrence da Arábia”.

Daqui, rumando para oeste, está a sensível e problemática fronteira com o Paquistão. São cinquenta, oitenta ou cento e cinquenta quilômetros de distância; depende do grau de percepção do seu informante.

Aqui a Índia perde a fervorosidade e a sensação de que um bilhão de pessoas estão querendo negociar com você. Buzinas são substituídas por sinos pendurados nos pescoços de nossos meios de transporte. Pela manhã, depois de passarem a noite livres perambulando pelas dunas, as badaladas serão único auxílio para encontrá-los e nos carregar de volta pra casa.

O caminho é ladeado à distância por aldeias de casas de palha e barro, escondidas na paisagem. Vizinhos parecem dispensáveis. No nosso caminho apenas alguns pastores de cabras, camelos selvagens, cobras potencialmente perigosas e uma vegetação árida dão vida ao lugar. Durante a noite, escaravelhos irão se juntar a nós para o jantar.

Acostumados a ver o deserto somente em fotografias, eu imaginava tratar-se de um lugar praticamente desabitado. Ledo engano. Na verdade o Thar é povoado por aldeias, pastores nômades levando carneiros de um lugar para outro, arbustos, salteadores, criadores de camelos e vários desocupados.

Como uma pequena embarcação no cavado entre ondas grandes, nos escondíamos em meio às dunas. Depois de poucas horas sacolejando, o ponto de parada final é nosso acampamento. Dali, subindo outra pequena duna, assistimos àquele que talvez tenha sido o único pôr do sol em que realmente vimos a bola de fogo desaparecer no horizonte. Em outras cidades, a poluição era tão extrema que o sol desapareceu muito antes da linha do horizonte e em tons esmaecidos. Jogos de luz e sombra sobre a areia âmbar, imagens fantasmagóricas e o amarelo ia perdendo força a cada gole de chai. Um fim de tarde antes visto somente através da televisão.

Nós viemos atrás da promessa aliciante de dormir ao relento e ver as estrelas. E enquanto a fogueira ardia, vagarosamente elas apareciam, uma a uma. Vênus, como de praxe, fora a primeira luz. Pouco tempo restou até que elas estivessem por todos os lados, em 360º, mais nítidas do que nunca. Um oásis de céu iluminado.

Não me recordo de outro momento em que a luz das estrelas e da lua – que tardou e apareceu no meio da madrugada – tenha sido suficiente para fugir à cegueira. Nem cogitei a câmera. Seria uma tentativa frustrante registar tal cenário. Há momentos que não precisam de ser gravados, basta existirem na memória. Em alguns lugares do mundo, coisas normais tornam-se mais intensas, inexplicavelmente. E há algum tempo, descobri essa sensação como uma droga. Vagar por lugares inóspitos, em situações desconfortáveis, atrás de coisas simples em perspectivas diferentes.

Deitados em colchões sobre uma duna e sob as estrelas, estávamos mergulhados numa civilização sustentada por camelos e areia desde eras distantes. Uma cultura que em breve se dissolverá no tempo, lembrada como um tesouro do passado histórico do sul da Ásia. Jaisalmer é distante, mas longe de ser intocada. Novas estradas para os veículos militares, tanto indianos como paquistaneses, empurram cada vez mais as fronteiras dos povos do deserto para terrenos incapazes de manter vivas suas tradições mais prezadas. Migrações lendárias são substituídas por passeios para turistas atrás dos melhores ângulos fotográficos.

Buscando as aventuras descritas e vivenciadas em nossas imaginações, somos parte do processo que causa essa transformação. Uma triste constatação. Novamente, somos culpados.  Mas nesse caso, não me importo de ser antes eu do que você.

Jaisalmer, Rajastão. Fevereiro de 2016

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O verdadeiro sujo da história

Parece tão simples, como uma equação matemática: para evitar ratos e baratas, basta cuidar do lixo

Já não é de hoje que o homem teme alguns animais mais do que outros. Estou falando daqueles bichos nojentos, conhecidos por serem o terror de gerações, desespero das mães, um monstro tanto para a senhora de idade quanto pro marmanjo. Não precisei falar nomes, mas você com certeza já encaixou algum animal como “personagem” da nossa conversa de hoje. Rato, barata… Seja qual for, quando um desses bichos pega, ou melhor, aparece, aí o desespero é geral!
“Nossa, o cara mal chegou por aqui e vai defender bicho sujo?!”

Pois é, neste caso é verdade. Tirando a parte de que os bichos são sujos, é claro! Mas eu não estou aqui para fazer propaganda enganosa em nome dos animais, jamais. Entender a importância de cada ser para a vida é fundamental para entender o que está acontecendo no planeta. Com estes simples animais como exemplos mundiais, surge a questão:
“Aonde mora o rato?”

99% das pessoas que me respondem a essa pergunta erram feio, e eu aposto que você também vai errar. No esgoto? Eu disse que ia errar.

Ratos na verdade são animais adaptados para a vida em florestas e campos, assim como muitos outros roedores.

A dieta de um rato selvagem consiste basicamente de frutos, grãos e até insetos e outros pequenos animais, afinal, são ótimos caçadores – coisa que muita gente também nem imagina! Agora, antes de continuar com o raciocínio do rato, clamamos às baratas, para enfatizar.

“Aonde mora a barata?”
Vamos lá, segunda chance! Eu ouvi na floresta?! Muito bem!!!

No Brasil mesmo temos lindas baratas de floresta como as do gênero Blaberus. Baratas são decompositores, e geralmente se alimentam de matéria orgânica, também apreciam frutos, vegetais…

Só que atualmente, falando de modo bem grosseiro, tem tanta floresta assim pra esses bichos viverem?

É claro que nos dias de hoje o mundo todo já se rendeu a esses animais de uma forma que se tornaram pragas, tanto é que hoje muitos deles se mudaram para os esgotos e lixões, de fato; Porém é importante lembrar que quem obrigou os bichos a essa mudança, quem é o ser pensante e dominante na história, que poderia ter cuidado e não o fez… Ele mesmo, o maior predador do planeta. O ser humano.     

Agora, é compreensível tendo em vista como eram as coisas no passado, o conhecimento científico escasso e ainda muito cru, a tecnologia sanitária e a higiene então, nem se fale. Dá pra entender porque o homem não conseguiu prever situações, que para os dias de hoje seriam óbvias.
Na realidade mesmo, o que mais pegava é que o ser humano “civilizado” era muito porco de modo geral. Boa parte dessa sujeira  não foi limpa, continuou impregnada na nossa cultura, seja no banal hábito de jogar aquele papelzinho de bala por aí, ou então a famosa bituca de cigarro na rua.

A falta de higiene e saúde combinada com o lixo, o descarte e armazenamento inadequado, o tratamento inexistente… O homem não pensava que chegaria o dia em que o que o lixo iria ser um problema. E até hoje nós sofremos por essa herança de falta de saber.
O acúmulo de detritos é perfeito para os nossos protagonistas ratos e baratas, pois neles há abrigo, alimento e outros da espécie para se reproduzir – e quando você vai ver, o caos já está instalado.

No caso da peste negra na Europa do século XIV, uma das maiores epidemias da história da humanidade, foi exatamente o que aconteceu: houve uma explosão na população dos ratos, que transportavam as pulgas que picavam e deixavam as pessoas doentes. O pessoal não tinha condições sanitárias para combater essa doença, tanto é que, segundo estimativas, matou mais de 70 milhões de pessoas.

Com um incidente tão trágico marcado na história da humanidade, me admira o quão pouco aprendemos e o quão longe ainda estamos. As questões da poluição, falta de saneamento e de saúde ainda assolam o mundo inteiro, inclusive em algum lugar pertinho de você.
Não sabemos cuidar dos próprios descartes de modo a não fornecer facilidades, oportunidades para estes animais “sujos”… Pois é, o rato aprendeu a andar na sujeira. De quem é a sujeira mesmo? Tá na hora de aprender quem é o verdadeiro nojento da história e colocar a mão na consciência antes de jogar “só um papelzinho” pela janela do “busão”.

Parece tão simples, como uma equação matemática: para evitar ratos e baratas, basta cuidar do lixo.

Mas assim como as operações e incógnitas da equação podem parecer simples àqueles que são bons com os números, também podem se tornar indecifráveis se as cabeças que estão resolvendo o problema não tiverem informação; não souberem pensar. Isso não é um problema exclusivamente ambiental, é também político, social, econômico. Precisa ser enxergado e tratado como tal.

Mas a missão não é fácil. Convencer pessoas que cresceram em um meio ambiente deteriorado de que aquilo poderia ser diferente se todos ajudassem é um desafio. Dá a impressão que não vale a pena. Para quê fazer a minha parte se ninguém faz a dele? Ora, quanto egoísmo. O homem sempre se coloca acima de tudo e de todos. Só ama a si mesmo. Só consegue amar, mais do que a si mesmo, um filho, uma parte sua. – Mas aí chegamos na grande questão: De quem será o mundo amanhã, nosso ou de nossos filhos?

E os ratos e as baratas, continuarão por aí. Espalhando nojo e doenças por andarem no lixo humano. Sofrendo do preconceito e da fama que nós demos de presente a eles junto com a poluição e destruição ambiental. E o verdadeiro sujo da história ainda perde a oportunidade, por ignorância, de admirar e aprender muita coisa com estes animais incríveis.

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Mística Ilha de Chilóe

Bruxos, gnomos e feiticeiros habitam o imaginário de Chilóe, a segunda maior ilha da América do Sul (menor apenas que a Ilha de Terra do Fogo). Nesse longo trecho de terra ao Sul do Chile, acredita-se que criaturas mitológicas regem mares tempestuosos, cidades sempre cobertas por névoa e até o caráter de um povo historicamente lutador, cujo passado foi de muita resistência à capital Santiago.

Bruxos, gnomos e feiticeiros habitam o imaginário de Chilóe, a segunda maior ilha da América do Sul (menor apenas que a Ilha de Terra do Fogo). Nesse longo trecho de terra ao Sul do Chile, acredita-se que criaturas mitológicas regem mares tempestuosos, cidades sempre cobertas por névoa e até o caráter de um povo historicamente lutador, cujo passado foi de muita resistência à capital Santiago.

Mas o que talvez essas crenças e mitos sobrenaturais tentam explicar são as forças da natureza, que nunca estão de brincadeira com Chilóe. O arquipélago vive sob a ameaça constante de vulcões, terremotos, tsunamis e nevascas, que já arrasaram quase tudo por aqui dezenas de vezes. Ainda bem que foi “quase tudo”, pois o que sobreviveu à fúria da natureza e ao passar do tempo é de encher os olhos. Chilóe é dona de nada menos que 16 igrejas tombadas como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

São singulares templos de madeira, datados do século XVIII e que foram erguidos por missionários jesuítas. Na construção, foram usadas madeiras nativas (alerces, arrayanes, ciprestes…) e técnicas arquitetônicas que mesclam saberes ancestrais de pescadores, canoeiros e índios mapuche-huilliche com a cultura dos colonos espanhóis que chegaram à ilha em meados de 1500.

Ao todo, são mais de 70 capelas espalhadas pelo arquipélago, mas 16 delas preservam toda a originalidade dos tempos da construção e foram agraciadas com o título da Unesco. Nós, os repórteres Glória Tupinambás e Renato Weil percorremos grande parte desses templos a bordo do nosso motorhome A Casa Nômade e seria impossível eleger os mais bonitos. Os que mais nos impressionaram foram a Iglesia Nuestra Señora de Gracia de Nercón, cercada por jardins e um cemitério tradicional; o interior da Iglesia San Francisco de Castro, onde figuras mitológicas aparecem fundidas a imagens sacras, num impressionante sincretismo; a Iglesia San Antonio de Colo, com um lindo portal de entrada por entre os arcos; e a Iglesia Nuestra Señora del Patrocínio de Tenaun, com sua fachada azul celeste.

Ao lado de igrejas centenárias, Chilóe seduz com cidades inteiras erguidas sobre palafitas. Em Castro, a cidade central da ilha, basta um passeio de barco com duração de quarenta minutos para que se contemple, do mar, todo o colorido das casas construídas em cima de um emaranhado de madeiras.

A Isla de Las Almas Navegantes, ligada à Chilóe por uma passarela de 510 metros de comprimento, é outro ponto imperdível do passeio. Com um colorido cemitério, uma igreja histórica e um parque botânico, a pequena ilha pode ser inteiramente percorrida em uma curta caminhada, integrada a um passeio à fria Cascata de Tenaun.

Da curiosa mistura de saberes e costumes que formam a Ilha de Chilóe nasceram mais que igrejas e uma rica cultura. A mescla dos hábitos de pescadores, índios mapuche-huilliche e colonos espanhóis também colocou na panela, ou melhor, em buraco cavado no chão, mariscos, linguiças, batatas e pedaços de carnes de porco e de frango para dar origem ao Curanto al Hoyo.

O processo começa com o corte da lenha nos bosques de Chiloé. Em seguida, essa lenha é acomodada e acesa dentro de um grande buraco, cheio de pedras catadas à beira do Oceano Pacífico. Passadas duas horas, a lenha é retirada e, sobre as pedras quentes, é colocada uma imensa folha de pangue que funciona como uma panela natural. Ali dentro da folha, são jogadas (literalmente arremessadas!) uma grande quantidade de mariscos, uma camada de carnes e outra de linguiça – tudo cru e sem tempero algum. Por fim, são colocadas mais folhas de pangue entrelaçadas a batatas e pães. E, para fechar a “panela”, coloca-se terra por cima de tudo e…

É preciso esperar pelo menos três horas para saborear o curanto. E é nesse intervalo que a rica história de Chilóe vem à tona outra vez! Chefs como o talentoso Luis Melipichun, parecem ter a habilidade de fazer o tempo voar enquanto contam, com uma precisão de detalhes impressionante, a origem de cada ingrediente usado ali, as tradições de seus ancestrais e curiosidades a respeito da ilha. Depois dessa aula, é hora de abrir o curanto e saborear a abundância desse prato, que chega com tudo junto e misturado à mesa, com uma riqueza de sabores tão grande quanto o seu valor cultural.

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Dicas para economizar água

– O Dia Mundial da Água não é só para pensar, mas principalmente para agir: vamos usar este recurso natural com sabedoria para que ele nunca acabe.

Hoje, 22 de Março é o dia Mundial da Água, data definida pela ONU para realizar diversas ações pelo mundo para conscientizar a população da importância de economizar água.

– O Dia Mundial da Água não é só para pensar, mas principalmente para agir: vamos usar este recurso natural com sabedoria para que ele nunca acabe.

Separamos algumas dicas de como economizar água para que, juntos, possamos aplicar em nosso dia a dia:

1- Tome banhos mais rápidos. Cada minuto a menos no chuveiro pode evitar o desperdício de 23 litros de água, dependendo do chuveiro.

2- Se você tem uma torneira pingando, conserte‑a logo – o desperdício de água pode chegar a 2.000 litros por mês. Não tente apertar mais a torneira, pois isto desgastará a arruela e agravará o vazamento.

3- Sempre que abrir uma torneira e esperar a água ficar quente, guarde a água fria numa jarra ou balde e use‑a para regar as plantas, encher o bule ou qualquer outra finalidade. Você pode economizar água (cerca de 4 litros!) a cada vez que fizer isso.

4- Feche a torneira quando estiver escovando os dentes ou se barbeando. Uma torne aberta pode desperdiçar até 15 litros por minuto.

5- Se tiver a opção, use a meia-descarga no banheiro, sempre que for apropriado. Você pode economizar água (cerca de 8 litros!) por descarga.

6- Só use a máquina de lavar na capacidade total. A redução do número de lavagens pode economizar grande quantidade de água – modelos com abertura superior chegam a usar 240 litros por lavagem.

7- Não use a lava-louças com poucas peças. Cada ciclo de lavagem evitado representa uma economia de até 50 litros.

8- Ao lavar a louça manualmente, enxágue os pratos na pia cheia de água em vez de sob a torneira. Você pode economizar até 15 litros por minuto.

9- Lave frutas e verduras em uma bacia com água ou na pia cheia até a metade em vez de sob a torneira. Isso pode reduzir o consumo de água em mais de 30 litros a cada vez.

10- Ao lavar o carro, use balde e esponja no lugar da mangueira. Se utilizar apenas seis baldes, a economia chegará a 150 litros por lavagem.

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Bariloche e Região dos Lagos – Os jardins da Cordilheira dos Andes

Para curtir bem o frio, que tal ver a lua cheia nascer em um refúgio de montanha, com jantar à luz de velas, lareira, música folclórica e Bariloche como pano de fundo?

Um vento frio sopra da Cordilheira dos Andes sobre Bariloche em qualquer época do ano. No inverno, a charmosa cidade da Região dos Lagos parece ser cenário de um conto de fadas, coberta de neve e com picos perfeitos para esportes radicais. Para curtir bem o frio, que tal ver a lua cheia nascer em um refúgio de montanha, com jantar à luz de velas, lareira, música folclórica e Bariloche como pano de fundo?

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.EL Bariloche-AR.Passeio de barco pelo lago Nahuel Huape.Passando pela ilha victoria e o bosque de arrayanes

Essa experiência, completamente fora do circuito turístico, acontece no Refúgio Berghof e foi a mais incrível que nós, os repórteres Glória Tupinambás e Renato Weil, vivemos em Bariloche. O lugar foi a primeira residência de Otto Meiling, um dos esquiadores pioneiros na exploração das hoje badaladas montanhas de Bariloche. A antiga cabana de madeira preserva o charme e o ar rústico dos antigos tempos e recebe os visitantes em um ambiente aconchegante e cuidadosamente decorado.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.EL Bariloche-AR. Refungio Berghof. lua cheia com vista da cidade

Depois de curtir as montanhas, nós embarcamos no nosso motorhome A Casa Nômade explorar o tradicional roteiro turístico em Bariloche. As espetaculares vistas da cidade transformam até os viajantes mais descolados em turistas de carteirinha, ávidos por mirantes, teleféricos e os melhores points para contemplar os cartões-postais da cidade.

Uma ótima opção é percorrer os 35 quilômetros do Circuito Chico, como é chamado o roteiro básico pelos arredores de Bariloche. E aqui elegemos os melhores pontos para contemplar as belezas da região:

– Mirante do Lago Perito Moreno Oeste, com o Hotel Llao Llao e o Lago Nahuel Huapi diante dos nossos olhos.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.Villa Traful-AR. Circuito sete lagos.

– Mirante del Tacul, onde o azul do Lago Nahuel Huapi remete às águas do mar do Caribe e das Ilhas Gregas. Fantástico!

Também é impossível fugir de um dos passeios mais tradicionais de Bariloche: a navegação até a Isla Victoria e o Bosque de Arrayanes. Não é à toa que o tour é tão famoso! A experiência é realmente imperdível! A bordo do catamarã Cau Cau, cruzamos as águas azuis do lago Nahuel Luapi para conhecer duas das principais atrações da charmosa cidade andina.

Cercado por gaivotas que fazem voos rasantes e chegam a “pescar” comida nas mãos dos viajantes, o Cau Cau faz sua primeira parada no Bosque de Arrayanes para apresentar as típicas árvores de troncos finos e uma forte cor de canela.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.EL Bariloche-AR.Passeio de barco pelo lago Nahuel Huape.Passando pela ilha victoria e o bosque de arrayanes

Em seguida, é a hora de desembarcar na Isla Victoria, dentro do Parque Nacional Nahuel Luapi, onde uma caminhada de 8 quilômetros (ida e volta) leva à paradisíaca praia de Piedras Blancas, com suas lanchas e veleiros.

Agora, chega de mordomia! A capital do turismo de aventura da Argentina exige uma boa dose de adrenalina, que vai muito além do esqui nas montanhas durante o inverno. Em qualquer época do ano, Bariloche fervilha com atividades ao ar livre em seus cristalinos lagos. Um dos passeios mais lindos para curtir as águas da cidade é remar um caiaque no Lago Gutierrez. O vento contra nos exigiu um bom esforço físico durante quase duas horas de fortes remadas até uma praia deserta às margens do lago e não foram poucas as vezes em que o caiaque insistia em se virar para os rochedos. Ao fim do passeio, a paisagem é tão linda e tão convidativa que, mesmo com a água fria, não resistimos a um mergulho no Lago Gutierrez. Foi congelante, mas maravilhoso!

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.EL Bariloche-AR.Caiaque na lago gutierrez

Bariloche é apenas a maior e mais estruturada cidade da Região dos Lagos Argentinos. Nos seus arredores, a natureza foi generosa e espera os visitantes com lindos visuais que surpreendem em qualquer estação do ano. No inverno, os picos cobertos de neve dominam a paisagem. E na primavera e verão, a temporada das flores transforma a região em um verdadeiro jardim aos pés da Cordilheira dos Andes. A bucólica cidade de San Martín de los Andes, com seus canteiros sempre coloridos de rosa, vermelho, amarelo e branco são um convite ao relaxamento.

A vizinha Villa La Angostura seduz com um movimentado centro, repleto de lojas de artesanato e restaurantes sofisticados. Visitamos ali o charmoso Tinto Bistro e saboreamos, ao lado da lareira, uma tenra carne argentina e um salmão fresco.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2017.Puerto Varas-CL.

Na rota dos Lagos Argentinos, sobram mirantes com lindas paisagens. Mas nenhum deles é tão belo como o Mirador dos Ventos, na minúscula Villa Traful. Para chegar até lá, são apenas 150 quilômetros a partir de Bariloche, mas o ideal é reservar um dia inteiro para o passeio para que se tenha tempo para contemplar todo o visual da estrada.

E quem quiser esticar um pouco a viagem, vale pegar a estrada e chegar à capital da província de Neuquén para explorar a Rota do Vinho da Patagônia. Ali, bodegas e vinícolas nos apresenta todo o processo de produção da típica bebida, desde a colheita da uva até que o vinho chegue às charmosas prateleiras da região.

 

 

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