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Vencedores da promoção: Macboot te leva para Morretes

Confira o resultado oficial da promoção: Macboot te leva para Morretes

Confira o resultado oficial da promoção: Macboot te leva para Morretes. 

Os vencedores serão contactados por email ou telefone a partir da próxima segunda (20).

A promoção foi um grande sucesso, parabéns para todos os que participaram.

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Operação Praia Limpa

A Macboot carrega em todas as suas ações o conceito de sustentabilidade e está sempre aberta a parcerias que proporcionem benefícios para natureza.

A Macboot apoiou a Operação Praia Limpa, realizada nos meses de janeiro e fevereiro, em Ilha Bela, no litoral de São Paulo. Todos as pessoas que participaram dos mutirões de limpeza estavam com o nosso calçado e também promovemos a distribuição de mais de 1000 mudas nativas que foram entregues em blitz e ações de conscientização ambiental com os moradores locais. A Macboot carrega em todas as suas ações o conceito de sustentabilidade e está sempre aberta a parcerias que proporcionem benefícios para natureza.

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Carretera Austral – A estrada mais espetacular das Américas

Reza a lenda que o melhor da viagem é esperar por ela, fazer planos, estudar roteiros…

Reza a lenda que o melhor da viagem é esperar por ela, fazer planos, estudar roteiros… Mas com esses bons anos de estrada, nós, os repórteres Renato Weil e Glória Tupinambás, ousaremos contradizer o dito popular: o melhor da viagem é quando ela supera as nossas expectativas!

Estamos exatamente diante desse encanto depois de percorrer a Carretera Austral. Já esperávamos por uma estrada incrível em meio à Patagônia, com geleiras, cachoeiras, vilarejos charmosos, bosques e águas termais. Mas em seus 1.240 quilômetros, a rota que une as regiões mais díspares do Chile vai muito além disso!

A aventura inclui longuíssimos trechos sem asfalto, com muitos buracos e pedras afiadas pelo caminho, raros postos de combustíveis, cidades que são pouco mais que uma encruzilhada, curvas cegas, penhascos sem barras de proteção, pontes estreitas e uma sensação de isolamento do resto do mundo. Mas não pensem que essa lista de desafios são problemas não! Muito pelo contrário! Esses obstáculos são o grande charme da Carretera Austral, pois são eles que nos obrigam a tirar o pé do acelerador e apreciar cada centímetro dessa estrada com toda a calma e a prudência que ela merece.

 

Nesse território de aventureiros e viajantes, cruzamos com destemidos caminhantes, ciclistas com crianças, motoqueiros, jipeiros e uma trupe de motorhomes de todos os cantos do planeta. Tivemos dois pneus furados, os galões de combustível extra para emergência nunca foram tão úteis e o planejamento para não ficar sem comida no meio do nada teve que ser seguido à risca. Tudo pequenos detalhes perto da grandeza da Carretera Austral, que foi concluída em 1996 para ligar dois pontos remotos da Patagônia Chilena: Vila O’Higgins e Puerto Montt.

 

Começamos nossa expedição ao Sul e logo nos quilômetros iniciais veio a mítica vila de Caleta Tortel, a primeira atração da estrada. Construída sobre palafitas, o lugar guarda enigmas, mistérios e lendas na Isla de los Muertos (Ilha dos Mortos), com cruzes de madeira já quase cobertas pela vegetação indicando um trágico passado.

Vamos à história! Em 1905, 200 trabalhadores da empresa Sociedad Explotadora del Baker desembarcaram na ilha com a missão de abrir estradas para ligar os oceanos Atlântico e Pacífico. Esses homens se instalaram em cabanas em um lugar cercado por geleiras e montanhas hostis, enquanto esperavam a chegada de um outro barco com provisões de comida e artigos de primeira necessidade. Mas os meses passaram rápidos e essa tão esperada embarcação nunca chegou. Depois de um bom tempo consumindo carne salgada e farinha infestada de gorgulhos, os homens começaram a sofrer hemorragias (provavelmente decorrente do escorbuto) e a morrer. Acredita-se que pelo menos 120 trabalhadores perderam a vida. Os poucos sobreviventes foram resgatados por um barco, em setembro de 1905.

Mas essa é apenas uma das versões para essa tragédia. Outra história ainda mais incrível diz que esses homens podem ter sido vítimas de envenenamento. Há relatos de que a empresa que os contratou para o trabalho teria enfrentado dificuldades financeiras e, para não pagar os salários, teria matado seus empregados. Escavações e pesquisas arqueológicas já foram feitas no local e nunca se chegou a uma conclusão exata sobre a causa das mortes. A única certeza que se tem é que dezenas de homens foram enterrados na ilha em caixas de ciprestes, com apenas uma cruz sobre seus corpos. Hoje, apenas 33 cruzes resistem de pé, testemunhas de uma história enigmática e trágica, seja qual for a verdade por trás dela.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2016.Jaramillo.Argentina.Bosques Petrificados

Depois dessa aula de história, é hora de se preparar para uma boa dose de adrenalina. Vista roupa e botas de neoprene, agasalho impermeável, colete salva-vidas e capacete. Esqueça que, mesmo no verão, a temperatura da água nunca supera os 8 graus. Segure firme o remo e… UHUUUUUUUUUUUUUUUUUU! Prepare-se para uma das experiências mais emocionantes da sua vida: descer as corredeiras dos incríveis rios Baker e Futaleufú, em um rafting às margens da Carretera Austral.

E a Carretera Austral não é mesmo para os fracos. Na cidade de Puerto Tranquilo, ela te desafia com uma caminhada no gelo. É isso mesmo! Colocar grampões na bota, vestir todo o aparato de roupas de frio que estiver ao seu alcance, se equipar com luvas e capacetes e fazer um trekking com três horas de duração no Glaciar Exploradores, uma das maiores belezas da da Patagônia. Andar sobre o gelo, subir e descer as encostas íngremes e entrar nas cavernas e túneis congelados é uma experiência única! Seria mentira dizer que não dá aquele friozinho na barriga ao pensar que sob seus pés pode haver um bolsão de ar pronto a se romper a qualquer momento… Ou entrar numa caverna de gelo com milhões de gotinhas e pedrinhas se desprendendo do teto… Ainda mais quando se ouve um grande bloco de neve se desprender das paredes do glaciar e atingir as águas, num estrondo que parece uma batida de carro. Mas esse estranho medo é o tempero para tornar o passeio ainda mais incrível e inesquecível.

Pensam que chega de aventura? Não! Ainda falta navegar por um cardume de icebergs para chegar ao Glaciar San Rafael, a gigante geleira do Campo de Gelo Norte, na Patagônia Chilena. O barulho estridente do casco do barco se chocando contra os blocos de gelo dá um arrepio, mas a paisagem incrível faz com que qualquer um esqueça o medo e se renda ao deslumbramento!

Os paredões de 60 metros de altura e cinco quilômetros de largura parecem ainda maiores vistos de dentro do barco, do meio da Laguna San Rafael. O azul da geleira impressiona. E o êxtase vem logo em seguida: blocos imensos de gelo se desprendem de tempos em tempos e, ao atingirem as águas do lago, provocam um estrondo! Quase um alerta da natureza, um sinal de que tudo aquilo que parece morto e congelado diante dos nossos olhos está, na verdade, em constante transformação.

Na Villa Cerro Castillo, sejam bem-vindos à Patagônia Rural. Prepare arreio, laço, bota e espora para conhecer um outro lado da cultura do Chile, ainda ligado ao campo, às raízes gaúchas e às tradições patagônicas. Cavalgadas, festas típicas com sanfona e viola rancheira e muito cordeiro assado em parrillas são atrações imperdíveis.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2016.Puerto Tranquilol-CL.Carretera Austral.Caminhada no gelo sobre o Glaciar Exploradores no Parque Nacional Laguna San Rafael.

Quando você pensa que não há mais belezas, vem aí uma caminhada puxada até o Ventisquero Colgante, uma geleira pendente de onde brotam duas impressionantes quedas d’água. O paredão de gelo, em tons de branco e azul, parece que vai desabar a qualquer minuto. E não é só impressão não. A água que derrete do glaciar vai se represando em diques naturais lá nas alturas e, de tantos em tantos minutos, uma dessas barreiras se rompe e eis que desce, de repente, um volume enorme de água, com pedaços de gelo. Tudo acompanhado de um grande estrondo, provocado pelo choque com as rochas e o lago que estão dezenas de metros abaixo. É incrível!

Renato Weil/A Casa Nômade- 2016.Puerto Tranquilol-CL.Carretera Austral.Caminhada no gelo sobre o Glaciar Exploradores no Parque Nacional Laguna San Rafael.

Mas nem só de adrenalina e aventura é feita a Carretera Austral. Em Puyuhuapi, a Patagônia presenteia os viajantes com águas termais, que brotam do solo a 85 graus centígrados e são armazenadas em charmosas piscinas com borda de madeira, às margens do Oceano Pacífico, num convite ao descanso e ao relaxamento.

A primeira piscina, com temperatura de 30 graus, é apenas para quebrar o gelo do vento que insiste em soprar à beira-mar, mesmo em pleno verão. Depois desse banho de estreia, é hora de passar para as piscinas mais quentes, com temperaturas que variam dos 35 aos 40 graus e passar o dia inteiro ali, de pernas para o ar, recarregando as baterias para as próximas andanças.

Renato Weil/A Casa Nômade- 2016.Puerto Cisnes-CL.Carretera Austral.Parque Nacional Queulat.Ventisquero Colgante

E para nos despedirmos da incrível da Carretera Austral, desembarcamos as bicicletas do nosso motorhome A Casa Nômade e curtimos vários quilômetros bem devagarzinho, pedalando por lindas paisagens às margens do Lago Rosselot, onde solitários e charmosos pescadores parecem ter saído de um filme para lançar suas iscas nas águas calmas do lago para fisgar uma truta ou um salmão.

Diante de tanta beleza, o nosso conselho para aqueles que têm um pouquinho de sangue de nômade correndo pelas veias é: vá desbravar a Carretera Austral! Vá agora! Vá a pé, de bicicleta, moto, carro… Simplesmente vá! Antes que o asfalto chegue por lá e roube o encanto dessa estrada que, sem dúvida, é a mais espetacular das Américas.

 

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Parque Nacional Torres del Paine

Nós, os viajantes Glória Tupinambás e Renato Weil, demos a sorte de explorar Torres del Paine de motorhome

É bom preparar as pernas e o bolso para explorar Torres del Paine, reconhecido como o parque mais bonito da América do Sul. Nesse paraíso natural localizado no extremo Sul do Chile, as trilhas não são brincadeira: caminha-se cerca de 20 quilômetros por dia (entre subidas e descidas íngremes, ventos patagônicos, pedras e alguma lama) para chegar aos principais atrativos. E os preços também não são nada leves. Um casal vai gastar uma média de R$ 1.000 por dia para pagar a entrada do parque, alojamento nas trilhas, deslocamento em catamarãs e alimentação. E quem quiser conhecer o parque num esquema de luxo também tem essa opção (basta ter uma conta bancária recheada). Dentro da reserva natural, há hotéis de altíssimo padrão, com diárias a partir de R$ 3.500.

Nós, os viajantes Glória Tupinambás e Renato Weil, demos a sorte de explorar Torres del Paine de motorhome, o que significou conforto (banho quente, comida boa e cama confortável dentro da nossa A Casa Nômade) a um preço super camarada! Ficamos 8 dias no parque para percorrer os principais atrativos e agora sim podemos dizer que Torres del Paine não é apenas um dos lugares mais lindos da América, mas também do mundo.

Então, bora começar pelo cartão-postal? As Torres: gigantes maciços de pedra cobertos de neve são deslumbrantes! E para completar o cenário, um lindo lago esverdeado formado com água de geleira. É incrível e vale cada minuto da exaustiva caminhada até lá!

E depois, é hora de explorar o Glaciar Grey. Na trilha de 22 quilômetros que leva à geleira mais famosa de Torres del Paine, experimentamos a sensação única de caminhar ao lado de icebergs e sentir no rosto o vento frio e cortante que sopra sem parar. Maravilhoso!

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Negócios Pendentes

Nos vemos no que hoje pra mim, ainda, é só a terra das es

Anos atrás, durante uma encruzilhada em um ponto crítico em minha vida, eu engavetei essa viagem. Há surpresas – e grandes indicadores de esperança e ameaças – que camuflam algumas escolhas. E apesar do meu desejo, eu certamente não estava pronto para aquilo. Agora, talvez seja o momento de acabar com essa espera e resolver algumas pendências.

O que eu sei sobre a Índia? Taj Mahal, Mahatma Gandhi, curry.

Nepal? Bem, o Everest fica por lá.
Sem dúvida alguma, meu maior percalço é o planejamento antes de uma viagem. Tomar notas de um guia, buscar informações em blogs e tentar estabelecer um itinerário são coisas que me dão calafrios. Muito por conta da minha total aversão a roteiros engessados, se existe alguma parte que eu preferiria pular seria justamente essa. Não estou à procura dos melhores restaurantes da cidade que irão agradar ao paladar de turistas ou atrações tidas como imperdíveis por quem não vive lá. Errado, despreparado ou relapso, gosto mesmo é do improviso e do calor do momento. Sempre me saí melhor conversando nas ruas, seguindo meu instinto e fazendo a minha interpretação momentânea. Me dê um mapa e vai ficar tudo bem.
Depois de horas a frente de um computador meu cérebro está cozido. Há mais de uma semana tento me adiantar e comprar alguns tickets de trens que vou precisar pra me mover pela Índia. Em um país com mais de um bilhão de pessoas, imagino que essa é uma boa hora para me esforçar e tentar garantir essas passagens. Mas não tem sido nada fácil. Dezenas de e-mails em um inglês bastante mal escrito – da minha parte, é claro -, números de telefones imaginários, cópias de passaportes e a esperança que, talvez no próximo contato, algo dê certo.
Será isso uma prévia da Índia? Um teste de paciência para já ir me acostumando?

Eu espero que não. Tento varrer da minha cabeça o carretel de informações preconceituosas e mal faladas sobre as quais eu li e manter meu foco na esperança de uma empreitada reveladora no melhor sentido.
Qual o grau em que nós do ocidente – me incluindo – somos ignorantes sobre outros lugares da Terra? É realmente uma visão estreita e que nos coloca como prioridade? O quão suficiente liberto do etnocentrismo eu estou para me deixar ter uma experiência positiva no sudeste asiático?
Todos exaltam insistentemente o “choque cultural” que é chegar a lugares como Varanasi ou percorrer Katmandú. Cores brilhantes, variações descontroladas de texturas, rituais com cadáveres, serpentes, misturas de especiarias, sabores e aromas assertivos. É isso o que podemos esperar da Índia e do Nepal? Ou seria apenas um olhar ocidental da situação?
Nem de longe sou um viajante experiente. Nunca sequer visitei um país onde a maioria não fosse cristã. Mas espero compensar isso com entusiasmo e curiosidade, os melhores argumentos para viagens que posso pensar.
Ainda que eu escreva para as pessoas, geralmente não me importo muito com o que elas  vão tirar das minhas experiências. Claro, espero que as pessoas gostem do que vêem e lêem. Espero que elas sejam entretidas e interessadas. Que elas achem as imagens impressionantes e entendam as minhas meras mensagens. Mas isso é muito, muito longe do que eu estou pensando quando me certifico se meu cinto está afivelado e se a bandeja a minha frente se mantém presa.
Mesmo tendo que dedicar atenção a locais para hospedagem, horários de trens e vacinas, em primeiro plano me preocupo como eu vou reagir a algumas situações e a forma como eu vou poder entender e ter cabeça suficiente para interpretar alguns lugares.
Não espero nada da Índia ou do Nepal e ao mesmo tempo espero tudo. Será mesmo verdade a máxima de que volta-se “diferente” de lá? Quem são os Sikhs? Por que as vacas são sagradas? Em pouco mais de uma semana o avião vai aterrissar em Nova Delhi e então o show vai começar. Até lá, tudo é expectativa e mera presunção.
Por que eu escolhi esses países? Honestamente, não encontro uma resposta confortável.
Das coisas que ainda tenho certeza, uma delas serve de alento: quanto mais vemos do mundo, como as outras pessoas – supostamente tão diferentes de nós – vivem, e ainda que brevemente, possamos conversar com elas, dar um passeio e dividir um prato de comida, então melhor esclarecidos seremos. Estar exposto a outra realidade é contaminante. Nos permite aprender importantes lições e nos enriquece. Faz – ou deveria nos fazer – mais humildes.
Nos vemos no que hoje pra mim, ainda, é só a terra das especiarias e do Himalaia.

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A Isla Martillo

Uma bela história sobre o que aconteceu e o que vem acontecendo na fauna da Terra do Fogo

Esse não é nenhum texto escrito com caráter questionador. Na melhor das hipóteses, ele conta apenas uma bela história sobre o que aconteceu e o que vem acontecendo na fauna da Terra do Fogo. Um breve relato sobre pinguins.

 

Não é de hoje que ridicularizamos gringos que, por ventura, nos questionam ou imaginam por conta própria cobras perambulando na Avenida Paulista, tribos indígenas intocadas tomando banho de sol no Leblon ou que o cipó é o principal meio de transporte em Manaus. Eu nunca ouvi falar sobre qualquer estudo, mas desconfio que há uma grande parcela de brazucas que também imaginam a capital da Amazônia como um lugar totalmente verde, com ruas de terra batida e jaguatiricas dormindo em quintais.

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Em Ushuaia a situação é a mesma. Faz parte do roteiro diário esclarecer que não há pinguins caminhando na rua. Eu não sei que parte do Happy Feet algo ficou mal esclarecido e muita gente acabou confundindo as coisas. Imagine você, no ponto de ônibus esperando o latão, e ao seu lado um par de pinguins estão dividindo uma lata de sardinha enquanto curtem o fim de tarde. Em algum lugar do mundo isso até pode existir, mas aqui, hoje, não.

 

Segundo os mais antigos, até os anos 70 houve uma colônia de pinguins bastante próxima da cidade, localizada mais ou menos na parte da península onde hoje é o Club Náutico de Ushuaia. Apesar da cidade já estar de pé há mais de 130 anos, 40 anos atrás ela era apenas um pequeno povoado, com um velho presídio e uns 5 mil habitantes. Não havia indústrias, poluição, pessoas.

 

Mas conforme o progresso deu as caras e o lugar começou a crescer, quem resolveu dar no pé foram os pinguins.

Justamente nesse ponto a história se perdeu. Não se sabe com exatidão em que ano começou ou quanto tempo o processo de migração demorou. E mais além, ninguém sabe o porque eles decidiram se estabelecer em uma pequena ilha que está a mais de 70 km da sua antiga casa: a Ilha Martillo.

 

Em 1800 e guaraná com rolha, o inglês Thomas Bridges aportou na região de Ushuaia com a missão era evangelizar os nativos. Algumas tentativas frustradas já haviam ocorrido, mas dessa vez a carruagem andou. Ao invés de massacrar os indígenas fazendo uso da força – e ser massacrado também, diga-se de passagem -, Bridges resolveu tudo fazendo apenas o uso de uma única arma: o diálogo. O inglês aprendeu o idioma dos nativos, ganhou a confiança deles, bateu um papo e tudo acabou bem. Não que eu concorde com o que ele fez, mas pelo fato de uma conversa ter entrado no lugar de mais pólvora ele merece algum crédito.

 

Feito seu trabalho, Thomas decidiu se estabelecer na região. Foi a Buenos Aires e solicitou um pedaço de terra para que ele pudesse se fixar com a família. O então presidente argentino Julio Roca viu nesse pedido uma grande oportunidade de liquidar outro conflito. Na época, Argentina e Chile estavam em um delicado processo de delimitar fronteiras, e Roca percebendo a suposta solução batendo sua porta não há deixou escapar. Bridges voltou para a Inglaterra portando um documento onde a Argentina lhe concedia terras. Como naquela época as informações eram escassas e levavam muito tempo a serem entregues, os ingleses entenderam como resolvido o conflito fronteiriço Argentina e Chile e passaram a acreditar que aquela região era celeste.

Foi nesse pedaço de terra, distante uma hora de carro de Ushuaia, que se fundou a primeira estância da Terra do Fogo: a Estância Harberton. Hoje um centro de pesquisas, o lugar também abriga um museu expondo a vida marinha da região e é acessível somente pelo mar ou pela Ruta J. Um propriedade particular, que está nas mãos da mesma família à quase 200 anos.

 

OK, linda história. Mas que diabos tem haver esse inglês e a estância se o texto era sobre pinguins?! Pois foi justamente para dentro dessa área privada que os pinguins rumaram.

 

A Ilha Martillo é uma das dezenas – ou centenas – de ilhas no Canal de Beagle, deslocada cerca de cem quilômetros da saída para o Oceano Atlântico, e pertence às propriedades concedidas a Thomas Bridges. Assim como muitas outras, ela tem exatamente as mesmas características das ilhas que estão ao seu redor, e essa é a parte mais intrigante.

 

Não se sabe porque exatamente os pinguins escolheram essa ilha. As condições geográficas, climáticas e geológicas são exatamente iguais às de quaisquer outras que estão próximas. Mas por uma grande obra do acaso, acabaram escolhendo uma área protegida para fazerem seus ninhos. É como se eles soubessem o que estavam fazendo e estivessem cansados de vizinhos. Um vez dentro de uma área particular, e justamente sobre a tutela de um centro de pesquisa da vida marinha, eles finalmente encontraram o lar ideal.

 

Durante as estações mais frias, os pinguins rumam para o norte. Somente quando a temperatura começa a aumentar, em meados de outubro, eles adentram o Canal de Beagle e se estabelecem em sua ilha, onde passam o verão reproduzindo. Eles estarão por aqui até próximo ao mês de abril, quando deixam a ilha em direção às águas quentes. É sempre a mesma ilha e a operação se repete ano após ano.

São duas as principais espécies que freqüentam a Ilha Martillo: os Pinguins-Papua e os Pinguins-de-Magalhães, mas não é difícil que os Pinguins-Rei dêem as caras. Há poucas semanas escutei falar que Pinguins-de-Penacho-Amarelo, que normalmente estão na Ilha dos Estados ou próximos a Península Valdez, também estavam visitando a Martillo. Além dos pinguins, aves como skúas, petreles, cormoranes e gaivotas também figuram pelos arredores.

 

Chegar a “Pinguinera”, como foi apelidada a ilha, é bastante fácil, mas depende exclusivamente da compra de um tour. Por contrato, apenas uma operadora pode fazer o desembarque na reserva e cem é o número limite de visitantes diários.

 

Confesso que – não me pergunte porquê -, eu não estava tão animado enquanto subia ao bote que durante vinte minutos nos levaria até a Martillo. Eu estava com o clássico pensamento preconceituoso que atinge alguns viajantes. “Ahh, isso é coisa para turistas e americanos verem”.

 

Mas, como em muitas ocasiões, e para o meu próprio bem, eu estava errado. O barco desacelerou, eu ergui a cabeça, e ao passo em que eu via os primeiros caminhando desengonçados pela areia da praia, o guia solicitava em voz alta à todos: “Eles são amigáveis, mas se assustam fácil. Por favor, controlem seus sentimentos.”

 

Pra mim, já era tarde demais.

 

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